quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Com a palavra: Marcos "Morto"

Ano novo, vida nova, nada melhor que começar o ano aprendendo com quem ha muitos anos vive o skate de forma intensa e construtiva.
Nosso primeiro entrevistado do ano é um dos maiores nomes do skate na década de 90, literalmente um dos maiores, já que seu recorde de ollie até hoje não foi superado. Trocamos uma ideia com Marcos “Morto” um dos principais nomes do skate guarulhense e que agora vem pulando grandes obstáculos para fazer o skate crescer na cidade.
Nome: Marcos Augusto da Silva
Idade: 36 anos
Tempo de skate: 22 anos
Local: Guarulhos
Patrocínio: Tupode

SS- Salve Morto, você foi um dos principais skatistas amadores da década de 90, quais as principais recordações desta época ?
Primeiramente obrigado pela oportunidade dessa entrevista. Eu comecei a andar de skate em 92 pelas ruas de Guarulhos e logo em seguida precisei fazer curso de eletricista no SENAI, devido a cobrança dos pais para ter uma profissão, e umas das principais lembranças que eu tenho dessa época eram de diversos circuitos e campeonatos de skate.
Praticamente havia uma quantidade imensa de campeonatos amadores pelos estados de São Paulo, Paraná , Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Mas quem com certeza me influenciou a colar em campeonatos e nas pistas foi o Bam-Bam! Eu o conheci na rua perto de casa e fora andar muito de skate ele já andava com uma calça gigante, com certeza isso influenciou uma geração de gangueiros pela cidade.
A primeira pista que eu andei era a Polato aqui em Guarulhos mesmo e depois a ZN que foi onde eu corri o meu primeiro campeonato amador, nunca corri iniciante, e no campeonato eu fiquei feliz de correr porque foi a primeira vez que eu media o meu skate. Com certeza o resultado não foi positivo, mas eu gostei que a partir dali eu pude perceber o que precisava para ser um skatista e correr os campeonatos.
A partir dai eu comecei a andar mais em pistas, treinar manobras e deixar o skate mais consistente. Foi então que andando nas pistas o Ronaldo da Shiny curtiu meu role e começou a me dar um material e a me levar aos campeonatos. Nesse tempo eu conheci o Rodrigo Bisnaga (TX), o Emerson Torres, Osvaldo(Vadão), Kamau e a partir dai fora andarmos de skate todos os finais de semana, devido a estudar e trabalhar, nós corríamos os campeonatos e viajávamos para os estados vizinhos para participarmos de circuitos. Isso com certeza foi o inicio de uma grande amizade que dura ate hoje, e a partir dai eu comecei a conseguir alguns patrocínios e a ser conceituado no skate.

SS- Quais os motivos que impediram você de se tornar um skatista profissional?
Desde o inicio do skate eu corria com trabalhos em empresa. Eu comecei a andar de skate e 6 meses depois eu estava estudando no SENAI, e após o curso eu estava trabalhando em empresa. Eu consegui correr alguns circuitos importantes de skate, me classifiquei, que eram algumas das exigências para passar para profissional.
Só que quando a minha oportunidade de passar para profissional veio eu já tinha 25 anos, aliás eu comecei a andar de skate com 14 anos e fazendo uma comparação simples com o Rodrigo TX, com 15 anos ele tinha ganho um campeonato mundial , ou seja, eu trabalhava, comecei a andar tarde de skate e trabalhando o meu tempo era menor para se andar e devido a isso tinha uma evolução mais demorada que os demais skatistas da minha época. Quando veio a oportunidade de ser skatista profissional eu era mais maduro que os demais skatistas da época e assim quando me ofereceram as condições para passar de categoria, salário e demais benefícios percebi que a grana não era suficiente para eu ter uma condição digna, pois a maioria dos skatistas passa para pro com até 18 anos e eu com 25 já tinha outras necessidades.
Descartei passar para profissional e me dediquei a estudar e me especializar na minha área, claro que quando você começa a andar de skate com certeza, alguma vez pelo menos, passa pela sua cabeça ser skatista profissional. O meu sonho de adolescente de ser skatista profissional não se concretizou devido a minha oportunidade ser menor que a minha expectativa, mas isso foi uma coisa importante ter acontecido, pois ai precisei correr atrás de outras coisas.
SS- Você ainda hoje tem o "título" de maior ollie do Brasil, como rolou essa parada?
Eu estava desempregado e conseguia andar de skate todo dia. Além disso, eu pulava corda e a gente andava em mesa todo dia por ter uma na quadra do Píer Viti aqui em Guarulhos. Quando apareceu o flyer do campeonato de ollie eu estava numa fase boa de skate, fui para ver ate onde chegava meu ollie, não estava preocupado em ser o primeiro.
Quando eu ganhei foi aquela festa, mas eu queria continuar, após o pessoal ter parado na faixa de 98cm eu pulei só ate chegar 105cm ou 1 metro e 5 centímetros, mas para o skate subir ate essa altura foi necessário muito treino.

SS- Atualmente como é seu dia a dia e o que faz fora do skate?
Eu sou professor concursado do estado de São Paulo e fim de ano agora estou de férias. Também sou presidente da MUSG( Movimento Unificado dos Skatistas de Guarulhos). Fora essa parte dou aulas particulares de matemática e física.
SS- Você é uma das cabeças pensantes do skate em Guarulhos movimentando a cena local com a Associação, o que ainda falta para o skate da cidade crescer e se consolidar?
Uma associação só tem força a partir da hora que tem um número significativo de membros. Eu vejo por Guarulhos inteira diversos skatistas, mas, a maioria esta mais preocupada com a sua vida, ou seja, não possuem o pensamento coletivo de que se eu ando de skate, meu vizinho anda de skate, o cara do outro bairro anda de skate e nós não temos uma pista ou um lugar próximo para andar nós precisamos conseguir nosso espaço para podermos andar de skate independente de estilo ou modalidade.
O que eu poderia pedir a todos os skatistas da região de Guarulhos é que venham a associação e relatem o lugar onde se anda, se tem condições, quantos skatistas andam no local e a partir dai poderemos fazer um projeto e pedir ao poder publico que nos de uma condição, mesmo que mínima, para se praticar nosso esporte.

SS- Atualmente o skate vive uma nova realidade, muitos garotos começam a andar de skate pensando em ter patrocínio e ganhar dinheiro, alguns pais incentivam os filhos a andarem e serem "campeões" com o mesmo objetivo financeiro, você acha que a essência do skate se perdeu ou esta é apenas uma fase passageira?
 O skate é uma coisa tão envolvente que mesmo andando 22 anos eu acordo e ainda tenho vontade de andar, e olha hoje eu compro meu shape pra continuar andando e ganho algumas peças dos amigos que fiz durante esse tempo. E quanto aos campeões eles são uma minoria, isso é um sonho que criaram para conseguir vender produtos que não são do skate.
Infelizmente as grandes empresas estão vendo o skate como um mercado rentável, e campeonato sempre teve e sempre terá, pode se mudar a cara, evoluir os obstáculos, ganhar uma premiação melhor mas os fins serão os mesmos. O que esta mudando é a quantidade de dinheiro que todos os envolvidos nos eventos estão ganhando, claro a fatia menor continua sendo do skatista.
SS- A idade chega para todo nós, o que você faz para manter a forma e continuar com o skate no pé ?
Para continuar com o skate no pé é preciso que voce esteja sempre andando, e para se andar depois de uma certa idade você vai sentir a necessidade de fazer outra atividade física para manter o seu nível de skate. E manter o nível de skate seria o mais difícil devido a diversidade de manobras.
Eu costumo fazer diversas atividades físicas, pulo corda, corro, faço musculação, yoga e faço o possível para ter uma alimentação saudável. No momento eu estou andando sempre com os irmãos Diego e Diogo Ramos e devido a esse motivo não consigo ficar sem andar mais que 3 dias, eles praticamente andam quase todos os dias.
Tirando fases de lesões eles sempre estão andando, mas eu gosto disso, pois me sinto da mesma forma em que andava com o Rodrigo TX e o Emerson Torres quando fazíamos parte do time da Shiny, e a mesma vontade de andar.

SS- A vida é feita de sonhos, qual o seu maior sonho em relação ao skate ?
Eu vou fazer assim, vou falar meu sonho quando era jovem e o meu sonho atual. Meu sonho quando jovem era ser um skatista profissional mundialmente famoso, parece o sonho de ser "campeão "dos meninos de hoje.
E o meu sonho atual seria trabalhar em prol do skate, veja eu sou presidente de uma associação de skate e como comentei esses dias com o Klebão na Brama, não ganhei um tostão até agora e o que eu ganhei esse ano foi roubarem meu carro.
O roubar o carro foi uma ruim, mas a partir disso eu voltei a andar mais de skate e vou de skate a todos os lugares, inclusive no trabalho.

SS- Quais seus planos para o futuro?
Minha pretensão é fazer com que a cidade de Guarulhos se torne um lugar melhor para se andar de skate. Infelizmente a visão dos nossos políticos é a mesma que a dos pais dos "campeões", e por isso não entendem a verdadeira essência do skate, e por esse motivo eu só consigo fazer algo para o skate através de eventos de skate em locais.
A associação de skate não foi ideia minha, foi ideia do finado Laurence Really para se construir uma pista de skate com o nome dele, ainda não conseguimos, mas não desistimos de tentar.

Agradecimentos: Obrigado a oportunidade de expor minhas ideias, eu quero agradecer aos meus pais pelo suporte e ao Cleverson Maniglia e equipe da Tupode e mesmo se eles não me patrocinassem eu compraria as roupas dele pois acho muito legais, aos meus amigos , conhecidos e colegas que são muitos mas considerem eles do Sul ate o nordeste. Um agradecimento especial aos principais atletas e o pessoal que move a cena da cidade de Guarulhos, meu irmão James Bam-Bam, Diego Chaveiro, Mario Hermani, Bruno Arruda, Rafael Panco, os irmãos Caverna, Vinicius e Thiago JP, Klebão, Marco Antonio, Gustavo Geraldo, Diego e Diogo Ramos e todos os skatistas da região.
Paz

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