quinta-feira, 29 de julho de 2010

O skate na música ou a música no skate?

A música é a arte ou ciência de combinar sons de modo agradável ao ouvido, uma forma de expressar sentimentos ou de relembrar bons momentos. O Brasil é um país com uma cultura musical bem ampla contendo muitos estilos que acabam sendo a trilha sonora de nossas vidas. O skate tem uma ligação muito grande com a música, partes de vídeo são lembradas não só pelas manobras, mas também pela trilha sonora. Muitos skatistas tocam algum instrumento e acabam formando bandas, outros expressam o dia a dia das ruas cantando. Prova disso é que o Skate Saúde conseguiu entrevistar três grandes nomes da música brasileira, mais precisamente o rap. O que eles têm em comum? Antes de qualquer coisa, são skatistas!
É com muita alegria e satisfação que apresentamos os três entrevistados do mês para falar sobre música e principalmente skate, Doncesão, Parteum e Kamau confiram agora um pouco da trajetória destes três skatistas-músicos ou músicos-skatistas.


DONCESÃO




Foto:Assis 176



Nome: Doncesão
Idade: 24 anos
Tempo de skate: parado há alguns anos
Local: 011 nascido mal-criado na cidade de SP


Foto:Assis 176


SS- Para começarmos, qual paixão veio primeiro a pelo rap ou pelo skate?
Primeiro pelo skate. O skate sempre fez parte do meu universo de certa forma, comecei a andar com uns 11 anos, nunca fui muito habilidoso mais me esforçava pra acertar umas. Hoje só no solo mesmo jogando S.K.A.T.E quando muito, já operei o joelho e não da pra ficar forçando como antes, muito Doncesão para pouco joelho (risos).

SS- Onde foi que você começou a andar quem eram suas influencias e principalmente seus companheiros de sessão?
Comecei na antiga Praça da Manchete perto da ponte do Limão com meu irmão, a calçada da Manchete é lisinha, morei muitos anos lá perto, no prédio onde eu morava tinha uma quadrinha umas bordas comecei por lá. Lembro que o Laércio Lupa morava lá também, ele sem duvida me influenciou assim como vários outros que colavam lá na Manchete. Depois mudei da Casa Verde, conheci uma rapa de Santana e cheguei a colar algumas vezes na lendária ZN que era na frente da casa do meu tio, eu era muito moleque mais acompanhei de perto a fase final da ZN. Fazia um role sempre com o Rafael Whitejah que acabou se envolvendo com musica também, e o Julio Coelho moleque zica da Vila Gustavo, quem é do role da norte ta ligado, Clubão, Carandiru.

SS- E o início na música, como foi que você percebeu que tinha o dom de rimar?
Então, comecei a ouvir rap com vizinhos e amigos de escola que eram meus companheiros de role de skate também, meu irmão mesmo sendo mais novo sempre ouviu e me mostrou muito rap, Racionais era obrigatório no dia a dia, lembro da gente rimando em casa de brincadeira nessa época as trilhas de vídeo já me chamavam muita atenção lembro também de quando ouvi o som do Jackson na parte do Cezar Gordo, da mixtape do Muska, do Street Cinema quando saiu com o Joe mandando uma rima, os caras envolvidos com o rap e tal, o clipe do Pat Washington e o Henry Sanches no Gold, esse período foi louco porque o Pedro Tx da Sigilo, me apresentou muita coisa de rap gringo e nacional já que ele também rimava, aprendi muita coisa com o Pedro, os primeiros passos foram ali pela Sigilo, ai comecei a me arriscar e aqui estou respondendo a entrevista.

SS- Recentemente você fez a música “Obrigahh” usada na parte do Rodrigo Gerdal no aguardado vídeo da LRG o “Give Me My Money Chico”, como surgiu esta oportunidade de escrever uma música para um vídeo de skate e como foi à repercussão deste trabalho?
Bom, conheci o Gerdal através de um grande amigo lá de Curitiba, a gente sempre se tromba em Sampa quando ele passa por aqui, e numa dessas vezes curiosamente eu estava lendo a entrevista da revista em que ele saiu na capa, e de repente meu telefone tocou e era o Gerdal, eles estavam aqui finalizando as filmagens, ele pediu para mim colar lá no hotel e eu fui até lá com meu irmão, chegando lá tava ele e o Jack Curtin. Ficamos ouvindo uns sons e o Gerdal me fez o convite e me disse que tinha um sample, o resto da historia ta lá no vídeo teaser da Obrigahh, que saiu no blog da LRG (risos), mais foi uma parada sem explicação, caiu do céu e eu abracei como a oportunidade de realizar um sonho, chegar a fazer parte de uma produção como essa com pessoas que eu sempre admirei, parte de um vídeo de um skatista cabreiro acima de tudo, porque na real eu já tinha participado de uma trilha de um vídeo da Quicksilver com o som “Davi, o verdadeiro gigante”, era uma tour na Alemanha acho que distribuição local e tal, usaram o som lá achei bem louco, mais nada como ver seu som sendo usado em uma parte como essa do senhor Rodrigo Petersen. “Obrigahh” com certeza é um clássico na minha vida, vou estar pra sempre lá, ligado ao vídeo, é como “Royal Flush” na parte do Kennan Milton pra citar um exemplo.




"Obrigahh" from CINCOUM Agency on Vimeo.


SS- No que o skate influencia na sua música?
Acho que a maior influencia do skate na minha musica é a questão de como enxergar. O skatista tem essa parada de enxergar diferente, seja um pico ou uma situação e minhas musicas são registros de situações, registros da forma com que enxergo as situações. Então acho que é essa parada mesmo de analisar diferente, o skate ajuda a abrir o horizonte.

SS- Fale um pouco sobre a crew 360°, como ela começou e quem faz parte dela atualmente?
A 360 Graus Records é um selo de musica independente feito em São Paulo. Criada pelo DJ Caique e desde o inicio teve como objetivo manter as raízes do Hip Hop através do Rap, com o propósito de criar algo diferente e original apostando em novos artistas, e foi com essa visão que o Dj Caique descobriu e deu oportunidade a pessoas como eu e os outros membros da crew, na real nós somos mais uma união de amigos que gostam de criar juntos, sendo em forma de musica ou de vídeos, fotos e ilustrações. Hoje alem de mim e do Dj Caique a crew conta com Dr. Caligari, Ogi, Pizzol, Roko, Cap. Dan, Assis 176, Thiago Mello, Mutation Artworks e Montanha. “360 graus, falem de nós para seus amigos”.

SS- Em breve teremos o lançamento do seu novo álbum o “Bem Vindo ao Circo”, o que poderemos esperar deste novo trabalho?
“Bem Vindo ao Circo” é meu segundo disco, assim como meu primeiro ele é todo produzido pelo Dj Caique. Estamos em processo de finalização do disco gravando as ultimas vozes, como o Caique produz muitos beats, eu escolho os que acho que ilustram melhor os temas que tenho na cabeça e uso eles como cenário da historia que eu estou contando. “Bem Vindo ao Circo” como o nome diz, trata de temas da vida real com a roupagem das fantasias circenses e toda a carga metafórica que já existe na atmosfera do circo, estou ansioso, espero que quem ouça o disco embarque num universo diferente mais familiar em cada faixa. “Bem Vindo ao Circo” uma historia escrita e contada por Doncesão sob os instrumentais de Dj Caique. Aguardem.

SS- Para fechar, cite alguns ídolos ou influencias que você teve tanto na música como no skate?
São muitas as influencias e ídolos que eu tive no skate e na musica, sempre esqueço alguém nessas listas, então para não ser injusto acho que todas as pessoas que amam verdadeiramente o que fazem são influencias pra mim, pessoas que realmente acreditam e seguem seus sonhos. Seja o skatista que sobe no skate e rema mesmo de verdade com vontade ou o mc que se dedica a criar, registrar e apresentar com emoção suas rimas.

Agradecimentos: Valeu Skate Saúde e Thiago Pino pelo espaço, é sempre bom poder expressar as idéias.
Gostaria de agradecer a minha família, Sarah (cesarah), aos meus verdadeiros amigos (poucos e bons), 360GrausRecords, 176, Cincoumagency, Gerdal, Pedro e Rodrigo TX, Sigilo, Tyrone e todos da LRG , Antony C., Thiago Prodigo e todas as pessoas que deixaram de fazer qualquer outra coisa pra ouvir uma rima minha, faça mais faça com amor!
“Aqueles que são lado a lado, OBRIGAHH! E aos inimigos o mesmo recado shhhhhh...”

Para saber mais sobre Doncesão acesse: http://www.myspace.com/doncesao


PARTEUM



Nome: Fábio Luiz
Idade: 35 anos
Tempo de skate: 23 anos
Local: São Paulo

SS- Conte para nós como foi seu início no skate, suas influencias e onde eram suas sessões?
Primeiro, ao sair mais cedo de um aula de laboratório, cruzei o Césinha (Carpanez, do selo Highlight) andando na rua do Museu do Ipiranga. Foi meu primeiro contato com o skate, eu tinha 12 anos. Acho que a frase "Posso dar um rolê?" desperta certa ira no Césinha até hoje, mas nos tornamos amigos por isso. No fim do ano, depois de ter sido aprovado, ganhei um set up da Pro Life (Model André Osório). Meu pai tinha a mania de só liberar o presente no dia 24 de Dezembro, antes da ceia e, na época, passávamos o Natal na casa dos meus avós maternos em Araraquara. Rolavam sessões na cidade e no Clube Náutico. Foi assim que conheci os Marchesoni (Gustavo Pig e Juninho), foi assim que tive acesso aos primeiros videos da H-Street, fiz amizade com o Chupeta, com o Taro (ambos foram patrocinados pela Sessions no passado). Sem saber, foi logo ali nos primeiros dias de skate que comecei a moldar minha vida adulta, ao achar um link entre viagens para Araraquara e novos picos para andar.

SS- Você morou um tempo nos EUA, fale um pouco sobre este período e quais os principais benefícios desta época?
Ter descoberto uma outra cultura, ter vivido na terra do Skate, ter ido à shows que custariam muito caro por aqui, ter estudado design. Tudo isso contribuiu para que eu estivesse aqui, decidido, fazendo o que gosto de fazer sem amarras.

SS- E a música, quando você percebeu que tinha talento para rimar e produzir?
Até 2001, eu não havia percebido ou decidido isso, só fui fazendo o que o meu coração mandava. Quando assinei meu primeiro contrato de licenciamento com a Trama, passei a enxergar o que faço com mais seriedade. Sempre tive consciência de que havia mais arte acontecendo, por isso organizei coletâneas, de repente isso também vem do skate, dos tempos que organizávamos pequenos campeonatos na extinta Jr. Skatepark, lá em São Caetano, dos tempos do Circuito Interbairros em São Bernardo. Paulo David, Toshihiro Shibayama e Álvaro Codevilla, muito obrigado!

SS- Há muitos anos atrás veio na revista 100% Skate um cd chamado “100% Stereo” onde tive a oportunidade de escutar pela primeira vez um som seu, o que mudou na sua música desta época para cá?
Os equipamentos e os arranjos, creio eu.

SS- Um sonho para a grade maioria dos skatistas é um dia se profissionalizar, você conseguiu realizar este sonho, como foi sua passagem para profissional?
Acho que fiz parte da última geração de skatistas a passar para Pro com as honras da UBS (União Brasileira de Skate). Seu Fernando Ribeiro, pai do Alexandre (Ribeiro) era o presidente na época. Eu tive que ficar entre os 10 primeiros do ranking amador nacional para poder passar. E também era obrigatório passar para a categoria profissional com um model em vista, até por isso acabei saindo da Styllos e entrando na Cush.

SS- Você teve parte no vídeo “Febre da Roça”, como foi fazer uma parte de vídeo em uma época onde isto não era muito comum no Brasil?
Normal, até encontrei o Ralf (diretor do video) na premiere do Dirty Money. Não fazíamos idéia da importância daquilo, era nossa maneira prática de tentar justificar o investimento com a equipe. A Perfect Line era diferente das outras marcas da época, tínhamos um salário médio, mas não havia escassez de material. Em dado momento, o Ricardo (sócio da marca) mandou uma caixa de shapes para Torrance, onde eu morava com o Fabrício da Costa, Chupeta e Chaves, entre outros. O foco da equipe era andar de skate, ter bons models, fazer apresentações e o mais importante: ser um time de amigos. Hoje em dia, o Hélcio mora na Europa, o Fabrício nos EUA, quem está no Brasil está espalhado por outras cidades, mas a gente se fala e, lembra com carinho do tempo em que éramos um time.





SS- Por falar em vídeo, recentemente você participou do documentário “Dirty Money”, como foi relembrar esta época mágica do skate nacional e reencontrar todos os amigos que ajudaram a escrever esta página na história do skate brasileiro junto com você?
Há algo mágico nisso tudo, sim. Nem sabia o que falar para o Lampi (Irmão do André Qui), quando o vi. Me lembro de ter lido a primeira entrevista do Matt Hensley com ele, durante o aquecimento de um campeonato em Pira (1992). O Alê (Vianna) foi meu chegado de faculdade, era Pro pela Cush quando eu me profissionalizei. Chupeta, Chaves e Mancha são irmãos de outras mães que eu tenho. Não acho que fiz amigos na música, se levar em consideração o que vivo no skate até hoje.

SS- Há algum tempo atrás você trabalhou com a Nike SB no projeto “Custom Series”, que falava sobre memórias musicais dos skatistas da marca e você criou uma trilha sonora para cada um deles, como foi participar deste projeto e como é fazer música para skatistas?
Fazer música para qualquer fim significa colocar determinados sentimentos num espaço finito, é condicionar sentimentos. Eu nunca traduziria a liberdade do skate, e a correria do trio (FC, Gordo e Gerdal) com total fidelidade. Acho que o que criei é uma janela para o mundo de cada um deles.

SS- Cite alguns ídolos do skate e da música que te inspiraram a seguir neste caminho?
Sérgio Fortunato De Paula, Jovontae Turner, Sal Barbier, Alexandre Ribeiro, De La Soul, Hieroglyphics, Herbie Hancock, Nasir Jones, Rakim. Não diria que me inspiram diariamente como o meu avô (Seu Francisco Benedito), mas transitam entre as idéias que tenho.

SS- Apesar da vida agitada ainda sobra tempo para andar de skate?
Sim, até faço um workout para fortalecimento dos joelhos na academia. Um amigo fisioterapeuta (Salve, Rena!), que também pretende andar até depois dos 40, me ajuda com isso. Mancha e Chupeta não me deixaram parar, quando eu realmente foquei nas coisas do estúdio.

SS- Quais os planos para o futuro?
Continuar.


KAMAU


Foto:Luciana Faria/Divulgação


Nome: Marcus Vinicius também conhecido como Kamau
Idade:34 anos
Tempo de Skate: 22 anos
Local: Tucuruvi, ZN, SP


Foto:Luciana Faria/Divulgação

SS- Kamau você era um dos locais da antiga ZN (pista de skate) quais lembranças você tem deste pico histórico do skate paulistano e quais eram os outros picos que você costuma andar no início da sua carreira?
Eu lembro da primeira vez que fui pra pista e fiquei da hora que abriu até a hora de fechar. Meus ollies não eram dos melhores e eu pulava o barril de aéreo, segurando do chão. Me lembro que o Reco era um molequinho e já dava todos os tipos de blunt que eu conhecia. Devo muito da minha vida no skate à ZN. Andei por um bom tempo em pistas: Prestige, ZN, São Caetano e até algumas visitas à Polato em Guarulhos. Mas se escolhesse dois lugares pra continuar andando seriam a ZN e o Vale do Anhangabaú. Gostava bastante da Roosevelt também quando tinha os bancos laranja na parte de baixo.

SS- Você fez parte da Anhangabau Family, quem fazia parte desta crew e como eram as sessões noVale?
Fui convidado pelo Leandro Gringo e pelo McGregor e fiquei muito feliz com o convite. Já andávamos juntos por lá. Gringo, McGregor, Torreta, Anjinho, Regi, Charles, Sucrilhos, eu, Roberto Dosanjos, Pregueiro e Bozo, se não me falha a memória. Toda sessão no Vale era legal, mesmo que ficássemos só conversando enquanto estava lotado e dominássemos no período noturno.

SS- O que te influenciou ou te motivou a ser um MC?
KL Jay me perguntou um dia o porquê de eu não rimar, já que tinha boas idéias e acompanhava bem as letras dos MCs brasileiros e gringos que eu gostava. Achei que tinha algo a dizer e tentei fazer o melhor possível para dizê-lo. E continuo tentando.

SS- Até hoje a marca Urbanus é lembrada pelo seu time de skatistas no qual você fazia parte, como era fazer parte desta equipe?
Elton Shin foi o principal fator de eu fazer parte dessa equipe. E Denilson de Morais era a arma secreta e muito sangue bom também. Esses dois e Julio Prodigy foram as pessoas com quem eu mais me relacionei na marca e são os que ainda estimo. Tive também a oportunidade de conhecer Campo Grande e encontrar Helmut Dentinho, Carlos The Fome e fazer um rolê por lá. Foi a melhor parte dessa "fase".

SS- Tive a oportunidade de assistir muitos shows seus, no Indie Hip-Hop, o aniversário do Non Ducor Duco no Hole Club e recentemente o feito aqui em Guarulhos na festa Da Rua alem de alguns outros e sempre é muito grande a quantidade de skatistas na platéia, podemos dizer que você faz música “de skatista para skatista”?
Eu faço música pra quem gosta de música. Talvez muita coisa do meu ponto de vista de skatista sobre o mundo se reflita no que eu digo, pois é fato que enxergamos a rua, a cidade de um modo diferente. Talvez venha daí a identificação. Sem contar o fato de que muitos dos meus amigos e parceiros de sessão compõem a platéia. E o skate é um grande difusor da música que eu faço, nos vídeos, revistas e lojas.



SS- Um vídeo de skate marcante para mim é a edição 64 do 411VM especial sobre o Brasil, onde a música “Poesia de Concreto” foi trilha da parte do Rodrigo TX, como aconteceu esta oportunidade e o que isto acrescentou na sua carreira?
O fator importante para a carreira foi um pequeno reconhecimento na carreira. E me senti honrado por fazer parte da trilha de um de meus amigos e ídolos: Rodrigo TX. Também a honra de ter feito a trilha da parte do OG, um ídolo pra vários de nós. Anthony Claravall estava no Brasil pra filmar e o conheci através do Rodrigo. Trocamos idéia e ele me pediu uns sons. Dei uns cds na mão dele e foi isso. Quando fiquei sabendo foi por um e-mail pedindo autorização para usar as músicas. Foi através dos vídeos que conheci muito do que conheço hoje musicalmente e, talvez, ouvir minha música num vídeo causou a mesma sensação em alguém em algum lugar do mundo.

SS- Você realizou um sonho que a grande maioria dos skatistas tem que é um dia poder se profissionalizar, como foi este momento?
Não me profissionalizei da maneira mais correta. Conversei várias vezes com meu patrocinador na época e ele sempre recuava quando se falava em dinheiro. Descobri que ele me "passou" pra profissional quando vi um anúncio da marca. E da mesma maneira descobri que tinha saído da marca quando vi um anúncio sem meu nome. Faltou hombridade. Mas tive também apoio da Crail e o Sérgio foi o primeiro a me tratar como profissional, colocando as cartas na mesa devidamente e acertando como seria o trabalho. Tive alguns models de shape e sempre tentei passar nos gráficos mais que apenas um desenho, um enfeite. Meu primeiro model foi pela Value e tá guardado junto com os outros até hoje. Corri campeonatos e encontrei os amigos na sessão. Tive partes em vídeo também, fotos em revista. Só aumentou a responsa do que eu já fazia. Não me arrependo, mas, se pudesse refazer, começaria melhor essa etapa.

SS- Outra recordação que tenho é de você narrando alguns campeonatos de skate, como é trabalhar neste outro lado do skate?
É bem legal e muito tenho a agradecer a Daniel Arnoni por isso. Na época em que comecei a narrar foi pela associação direta que viam entre eu e o microfone, porque eu já rimava há algum tempo. E assim eu podia viajar pra todos os campeonatos, encontrar os amigos, dar risada e trabalhar com o que gostava, garantindo uma grana. A parte ruim era não conseguir andar direito, pois tinha que estar atento ao campeonato o tempo todo e ser sempre um dos primeiros a chegar e últimos a sair, tendo que ficar em período integral na pista. Sinto falta disso um pouco.
SS- Recentemente você lançou um model de shape pela Future, conte-nos como foi este projeto e o que você acha da campanha de valorização do promodel aqui no Brasil?
Acho legal ter meu nome novamente associado à Future, marca que comecei junto com Fabio Brandão, Márcio Conrado e Marcelo Kyioshi. Nunca perdi os laços com a marca e fico feliz em acompanhar a evolução da marca. A campanha pra valorizar o promodel existe desde 2006 nos Estados Unidos e foi idealizada por uma associação de marcas. Acho que ela pode atingir mais pessoas aqui se for devidamente conversada com a indústria. Mas valorizo a iniciativa.

SS- No início deste ano encontrei você no centro de SP e andamos alguns quarteirões juntos e pude perceber algumas pessoas te reconhecendo na rua e vindo conversar com você, sendo que algumas delas não possuem o perfil de fãs tradicionais do hip hop ou do skate, como é lidar com este assédio todo e principalmente levar o rap nacional a outro patamar de reconhecimento? Ainda não me acostumo com o reconhecimento e, principalmente, com algumas abordagens. Mas sou bem tranqüilo e paciente, consigo conversar na boa com as pessoas e agradecer a consideração que recebo. Estou trabalhando pra trazer o melhor no rap que faço e se ajudo o crescimento do rap com esse trabalho, mais satisfeito fico.




SS- Cite alguns ídolos ou influencias sua tanto no skate como na música?
Kareem Campbell, Stevie Williams, Ray Barbee, Jamie Thomas, Eric Koston, Thronn, Bob Burnquist, Rodrigo TX, Maurício Xixo, Alexandre Ribeiro, Marcelo Barneiro, Matosão, Geninho, Alexandre Vianna, Haroldo Carabetti, Fabio Luis, Alexandre Tizil, Nilton Ribeiro (Ton), Erasmo Sucrilhos, Martin Gringo, Pietro Balducci, Thiago Lemos, JN Charles, Danilo Cerezini, Cesar Gordo. São muitos na real mas todos tem até hoje um impacto na minha vida e no meu skate. Na música são muitos também. Os mais notórios são Racionais, DMN, Posse Mente Zulu, A Tribe Called Quest, De La Soul, Gangstarr, Jeru, Little Brother, Pete Rock & CL Smooth, Black Moon, Hieroglyphics e Jay-Z. Mas é muito mais que isso. Dos atuais destaco Blu, Pac Div, Tiron, Oddisee, Sam The Kid, LMNO, Invincible e Finale. Mas tem muito mais também.

SS- Como você enxerga o futuro do skate, imagina onde isso pode chegar?
Hoje vejo coisas que antes considerava impossíveis. Então é difícil prever. Mas o futuro é bem promissor.

SS- Uma musica sua que tenho escutado muito é 21/12, em muitos momentos chego a me emocionar, pois vejo fatos que aconteceram comigo ali na música, como surgiu à idéia de fazer esta música e o que você aprendeu de mais importante nestes 21 anos de skate?
A idéia surgiu pelo meu envolvimento com esse número desde que Anderson Tuca, meu amigo de longa data, me falou sobre o misticismo desse número. Desde então temos visto esse número em vários lugares e somos quase uma irmandade em torno dele. Eu, Tuca e Flavio Samelo. Quando me dei conta desses números no ano passado em que eu fazia 21 anos de skate, andando desde os 12 e 12 anos de rap, rimando desde os 21, achei que seria legal abordar o tema de uma forma que não dissesse exatamente sobre skate ou sobre rap e refletisse nas coisas que as pessoas levam pra sua vida que realmente a mudaram. E essas duas coisas: o skate e a música são as que tiveram mais impacto sobre minha vida até hoje. O que aprendi de mais importante foi como ver o mundo de forma que os obstáculos se tornem plataforma pra espetáculos, se é que me entendem. E agradeço cada amizade que o skate me trouxe.

SS- Esta havendo uma corrente muito grande no twitter pedindo rap nacional na TV aberta, e o seu nome é um dos mais citados para aparecer, o que você acha deste movimento e como você encararia a participação em um programa assim?
Acho legal essa movimentação, pois é algo legítimo e sincero. O rap sempre se mostrou avesso às grandes mídias e muitos não souberam lidar com a situação quando ela realmente apareceu, tanto público quanto artistas. Muitos até hoje recusam propostas que nunca lhes foram feitas. Eu encararia de forma natural se fosse algo que me permitisse mostrar meu trabalho sem alterações e/ou censuras. Claro que isso dentro do razoável, sem abusar do espaço. E recusaria se comprometesse minha integridade artística ou ideológica, como já recusei.

Agradecimentos: Primeiro agradeço pelo espaço pra expor as idéias e parabenizo a iniciativa. Agradeço a toda minha equipe desde o Dj até a Assessoria de Imprensa. E também a todas as pessoas que acreditam, consomem e fortalecem a arte que faço. Música pra gente, música pra mente, música pra sempre. E skate no pé enquanto o corpo agüentar.

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